O que é isso do tempo?

Não sei classificar o dia de hoje. É como se tivesse sido ontem. Lembro-me de cada palavra do meu pai ao telefone. Lembro-me que ainda nem ele tinha falado e eu sabia que tinha acontecido algo que mudaria para sempre tudo. Não sei se era da voz, se era de ter sentido o dia todo um aperto no estômago que nunca tinha sentido. Algo não estava bem. Foi como se as pernas perdessem as forças, a cabeça ficasse vazia e ao mesmo tempo tão cheia de tudo. Foi como se o norte se perdesse e eu não sabia o que fazer, para onde ir ou com quem falar. Chorei convulsivamente. Durante dias e dias não soube conter as lágrimas. Não era minha mãe, mas era uma tia adorada, era uma tia que sempre contei que um dia veria os meus filhos, me ajudaria com as minha dúvidas, nos juntássemos todos sempre e para sempre. Não era minha mãe e eu só pensava e se fosse? Porque a tristeza que senti foi de tal forma que sempre pensei que não haveria tamanha dor. Os anos passam, a vida continua, os meus primos são fortes, corajosos e têm-nos dado uma lição de vida única. A vida prega partidas mas não é por isso que devemos perder o rumo, a alegria ou a paixão com que se vive. A minha tia olha por nós e não há um dia em que eu não me lembre dela, seja por que razão for. Eu adorava aquela tia. Eu ainda adoro aquela tia. Aquela gargalhada que nos contagiava. Aquelas mãos que sabiam sempre o que fazer. Aquele coração quente que sempre nos acolheu. Mais anos virão e sei que nunca me esquecerei da minha tia e da alegria que era tê-la por perto.

2 comentários:

Sara Antunes disse...

Eu sou daquelas que acredito que as pessoas que vão embora fisicamente continuam connosco no coração e olham por nós, como anjos da guarda. Passasse o mesmo com a minha avó, e eu todos os dias me lembro dela, que ela está a olhar por mim, e tenho vontade de sorrir.
Também senti a minha dor, mas há que ser forte para conseguir pensar de maneira diferente :)

Carol disse...

São ajos da guarda, sem tirar nem por :)