Hoje, durante o meu dia de trabalho falei com várias pessoas. Aliás, troquei frases com várias pessoas. Falar, falei só com uma. Uma senhora. Aliás ouvi. E deixou me a pensar. O que leva alguém a contar a vida toda, toda - vá não quero exagerar, quase toda - a alguém que nunca viu? Talvez isso mesmo, nunca mais me vai ver. Fiquei a saber muito de alguém que nunca vi e penso que não voltarei a ver. A filha de nove anos, a mãe que morreu, o pai e irmãos que não lhe ligam, o pai da filha, o traste que se lhe seguiu, como está melhor agora mas trabalha 10 horas para arranjar um tecto para a filha. Como sabe que é bonita e parece mais nova do que é, mas que não quer homem agora, ficou queimada. Eu juro que não lhe perguntei nada, ela contou-me porque quis. Não queria conselhos, nem ajuda. Apenas lhe disse que quem é assim lutador sempre consegue o que quer, o sorriso foi recompensador. No fim do dia desapareceu. Não houve adeus, boa sorte, nada. Como veio, foi. E sei que o meu impacto na vida dela foi nulo, o dela na minha foi mais que isso. Há pessoas assim, não se sabe de onde vêm, para onde vão. Mas deixam-nos qualquer coisa. Uma força, alguma coragem e muito agradecimento por tudo o que temos e às vezes parecemos esquecer.

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