E depois há coisas que não fazem sentido nenhum. O desaparecimento de uma pessoa da nossa idade é uma delas. Assim, de um momento para o outro. Faz-nos questionar o verdadeiro sentido das coisas. O porquê de situações destas acontecerem. O valor que damos a X em deterioramento de Y, e se fará realmente sentido. A facilidade com que partimos do princípio que tudo será igual amanhã, depois e depois ainda. É tudo tão efémero. Passa tudo tão rápido. O que tomamos hoje por certo, amanhã pode-nos ser tirado sem sequer nos ser dado um aviso prévio.

Por cá ficamos nós, conhecidos, amigos, irmãos, primos, tios, pais, para assimilar tudo e tentar de alguma forma continuar a viver da melhor maneira possível. Alguns terão sempre mais dificuldade que outros, alguns terão sempre de ser mais fortes. Alguns entrarão em contacto com a tristeza profunda. Aquela que doí e faz doer de tal forma que parece não se conseguir encontrar forças para mexer um músculo que seja. Uma dor tão forte que não merece ser sentida, mas que não encontra forma de desaparecer. Outros conseguirão tirar alguma lição de vida de episódios como este. Outros ainda, conhecerão a revolta, a raiva, travarão uma guerra contra eles próprios e o universo, até que encontrem a desilusão e a tristeza, retomem o seu caminho, mais tranquilos, mais adultos, mais conscientes de que tudo passa, com mais uma cicatriz não visível a olho nú.

Não é o ciclo natural da vida, os filhos partirem antes dos pais. Não é suposto por várias razões óbvias. Apenas posso pensar e acreditar que foi para um lugar melhor. Que o seu papel aqui tinha de alguma forma, sem que ninguém consiga entender, chegado ao fim. Que nos vê a todos lá de cima, que vai olhar por quem lhe é mais querido e guiar até um dia encontrar todos juntos de novo.