Vou buscar o cartão de cidadão. Quase há um mês que o podia ter ido levantar. Não fui. Vou a pé. É mesmo aqui ao lado de casa. Aproveito que não chove. Que o céu está praticamente azul. Observo. Nunca pensei que fosse ser tão rápido. Tiro a senha, número B021. Olho para o monitor. Número B021. Sou eu. Cinco minutos. Estou de novo a caminho de casa. Penso. É bom andar a pé. Conhece-se melhor uma cidade. Reparo em lojas e prédios que ainda não tinha olhado com atenção. Merecem a atenção. Num espaço de 20 metros passa um camião a abrir por mim. Tenho que me encostar à parede. Vem com uma roda no passeio. Um carro de electricistas vem logo atrás. Abrem a janela. Mandam aquela boca que não precisava ouvir. Passo por uma tasca. Dois velhos à porta. O olhar que não queria. O assobio que dispensava. Páro na confeitaria da esquina. Dois pães de centeio, se faz favor. Desço a rua. Subo calmamente as escadas. Gosto de andar a pé. Mas que tirava uns quantos parasitas da rua, tirava.

Sem comentários: