Há dois degraus na grande varanda do andar de cima. Lembro-me de ser pequena e do esforço que fazia para me esticar toda, assim bem em bicos dos pés, para conseguir ver a fantástiva vista para o mar. Hoje olho para aquela altura e não me consigo imaginar tão pequena. Levantávamo-nos cedo, tão cedo que nem a televisão tinha "acordado" ainda. A promessa para sair da cama antes dos adultos era de que ficaríamos em silência à espera que o primeiro nos desse o pequeno almoço, que a avó se sentasse na varanda a tomar o dela. Tenho para mim que este silêncio era relativo. Éramos muitos para que isso acontecesse. Hoje fui só uma, a meo já me deixa ver televisão a qualquer hora do dia se eu quiser, já sei preparar o pequeno almoço e ficar em silência é coisa que não me é totalmente complicada. Ainda assim, esta casa tem tantas memórias, tem tanto cá dentro, mesmo sabendo que não não lhe dou o devido valor, que não venho tanto quanto gostava, há coisas que não mudam, a avó ainda se senta na varanda a tomar a primeira refeição do dia, a comtemplar a vista magnífica, o cheiro da casa ainda é o mesmo, tudo muda, mas o cheiro permanece, sempre o mesmo, ano após ano. Este cheiro é acolhedor, este cheiro faz-me querer repetir tudo que tive em criança, faz-me querer viver de novo bons velhos tempos.

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