Dores


Tenho uma dor, que às vezes me parece tão grande, que não cabe em  mim. Tem dias que se esconde bem escondida e quase a esqueço. Tem dias que não se ajusta cá dentro e faz-se sentir em cada respirar, cada gesto, cada segundo. Já a convidei a sair, já a tentei expulsar, já tentei fazer as pazes com ela, mas teima em mostrar a sua força, a sua raça. Um dia vou descobrir como domá-la, como dar-lhe a volta e usá-la em meu proveito. Até lá vou tentando encontrar um canto onde caiba e aí fique sem fazer barulho, sem se fazer sentir. Dores destas não se desejam, dores destas não se querem a ninguém, dores destas não deviam poder existir. E esta não é nem de perto nem de longe a maior dor que se pode sentir, é apenas uma dor tão grande sem razão que por não ter sentido algum parece não encaixar em lugar nenhum. É uma dor tão sem sentido que não havendo justificação tem ainda menos lugar para ser compreendida e é esta incerteza do não saber o que se sabe, mas saber que não se sabe que destroi e vai destruindo. Como é possível nascer-se com tanto e sentir que se tem um vazio sem tamanho?

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