A velheci assusta-me. A morte em si não. Talvez por não ter ninguém que dependa de mim - mas isso era outro tema. A velheci, e todas as complicações que ela possa trazer, assusta-me, muito. Dá-me uma sensação estranha na barriga e tudo. Pensar em toda a degeneração que implica o facto de irmos ficar mais velhos, assim mesmo velhinhos é complicado. Pensar que hoje sou uma pessoa activa, independente, que posso fazer quase tudo o que me der na cabeça, e que ao longo do tempo irei perder certas capacidades - auditivas, visuais, de destreza, etc - não é fácil. Mas faz parte. Pensar que poderei ficar acamada, sem utilidade nenhuma, apenas a dar trabalho a alguém que espero poder encontrar entretanto e que me acompanhará até que a morte nos separe.. não quero. Por outro lado pensar que poderei acompanhar alguém até esta velhice dá-me uma boa sensação.

Fui visitar um familiar e deixou-me a pensar nisso. Não me vou alongar, sei que infelizmente não estará entre nós muito mais tempo. Sei que deve estar a sofrer apenas pelo facto de saber que nada pode fazer sozinho. Sempre me disse agora no final, "desculpa não vos quero dar trabalho" - como se fosse preciso pedir desculpa do que quer que fosse. Como se algum de nós, em algum ponto achou "que chatice". Mas percebo o seu ponto de vista. Actualmente, não sei se terá a noção de alguma coisa. Está apenas deitado. Recebe-nos. Nem sei se sabe quem somos. Já não fala, questiono-me se é capaz de nos ver. Doi. Custa-me. Lembro-me dos tempos em que era criança, vivia no fundo da rua. Brincava na piscina. Ia lá a casa comer as bolachas da Júlia - hummm eram tão boas! - e de vez em quando até tinha direito a um pacotinho de Galak :) Foram como avós. Ainda são. Bem são tios avós, não é muito diferente neste caso. Gosto de pensar que fomos como netos. E são estas imagens que quero guardar na cabeça. São estas imagens que faço um esforço vezes 1000 para que me fiquem na cabeça quando me venho embora das visitas ao meu tio. Quero-o sempre sorridente, com cachimbo e aqueles olhos azuis a olhar feliz para nós.

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