Quando o mal vem por bem

No outro dia lia algures que não há problema nenhum em se guardar mágoa ou até rancor de alguém, desde que esse sentimento não controlasse a nossa vida, o nosso dia a dia. Mais coisa menos coisa era isso. E fiquei por momentos a pensar. Passo o tempo a querer sentir essa paz de espírito de estar de bem com a vida. Mas porquê? Se de facto houve alguém que me magoou, que me fez mal, que me fez algo que não gostava, qual o mal de não lhe querer bem, não quero mal, mas não quero nada, queria só que me deixasse em paz, queria que batesse com a cabeça na parede, vá, uma ou duas vezes. Mas a sensação que tenho é que fui eu que fui batendo com a cabeça, umas vezes mais forte que outras. Mas eu dou a volta, porque não há outra forma de viver a não ser dar a volta, seja ela que volta for. E por isso sim, há alguém que nunca me lembro que existe, mas quando me lembro não é com bom sentimento, não é com tranquilidade, porque não é esse o sentimento que essa pessoa transmite, seja onde for, como for, a quem for. Parece que a vida lhe corre bem, espero que esteja contente com o desfecho de muita coisa que sempre desejou. Não sei se teve no fim de contas o sabor de vitória nem a felicidade que desejava, provavelmente não, porque desejar a infelicidade dos outros nunca nos traz grandes alegrias, pelo menos eu vejo assim. A verdade é que agora até acredito que essa pessoa já não sinta nem metade do que sentia, mas os estragos que foi fazendo ao longo do tempo deixam as suas marcas. A verdade é que a falsidade anda de mãos dadas com a hipocrisia e portanto ninguém me tira das ideias que o que sempre quis ainda quer e que na verdade não saber o que se quer não nos dá a liberdade de destruir a felicidade alheia, mas nem todos pensamos da mesma forma. Fico triste de saber que há realmente pessoas assim e pessoas bem mais perto do que desejava e pessoas que se deixam enganar ou que não veêm o que está mesmo em frente aos olhos. Mas a verdade é que sentir repulsa de alguém não é obrigatoriamente mau e não faz de mim má pessoa, aliás faz de mim uma pessoa com um instinto alerta que me manda fugir do que não é bom nem faz bem. Ouvisse eu mais vezes o instinto e andava mais vezes sozinha, mas certamente menos mal acompanhada. E talvez por isso nos dias que correm o círculo é fechado, bem fechado, mas com pessoas boas, cheias do que é bom. Pena que pelo caminho tenha deixado pessoas boas, cheias do que é bom, mas que não me souberam dar valor nem proteger quando deviam. O caminho faz-se caminhando, há ainda longos caminhos a percorrer. O mundo dá muitas voltas e saber estar em paz é conseguir viver com o bom e o mau. 

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